Resposta à resposta de Libertarian Radical à minha resposta

Minha resposta ao texto sobre moralidade e proporcionalidade, de Libertarian Radical, foi respondida por ele, em outro texto que, sem qualquer surpresa, também é carregado de deficiências tanto gramaticais quanto estruturais-argumentativas. Seu texto na íntegra poe ser encontrado aqui.

Antes de iniciar, gostaria de deixar bem claro a ideia de moralidade que eu tenho, para que tanto o autor do texto quanto os leitores que acompanham esta discussão saibam exatamente quais conceitos estão atrelados ao símbolo “moral”, quando este é utilizado por mim. Por moral, entendo o conjunto de valores que um indivíduo tem em relação à realidade, às suas escolhas e modos de agir. São preferências (não no sentido de preferência temporal, como o autor erroneamente interpretou) subjetivas, segundo as quais os indivíduos pensam e agem. A discordância entre termos é uma questão meramente linguística, simbólica. O conceito que o autor atribui a palavra “moral” não é o mesmo que eu atribuo, e não há como o debate progredir antes que tenhamos ciência disso. Pensei já ter deixado isto claro no primeiro texto, ao dizer que caso o autor estivesse se referindo a conceitos universais e imutáveis, então não estaria falando a mesma língua que o Fhoer, pois suas definições são divergentes. Meu intuito, com este texto, não é defender que minha definição é a correta, pois isto nem ao menos faz sentido, mas sim mostrar que a definição do autor não é condizente com a realidade, interpretada dentro dos limites de nossa razão (alguém pode definir um triângulo como sendo algo que tem apenas dois e apenas três lados ao mesmo tempo; não será uma definição incorreta, será apenas um conceito atribuído a uma palavra, e tal conceito não terá qualquer significado, pois é ilógico, autocontraditório, incompatível com qualquer realidade possível).

O autor inicia o texto falando sobre a distinção entre preferência temporal e preferência atemporal, inferindo que minha concepção acerca da moralidade toma a preferência temporal como princípio, enquanto a sua toma a preferência atemporal. Não sei de onde foi tirado o conceito de preferência temporal, pois isso nada tem a ver com o assunto da discussão. O conceito de preferência temporal é qualitativo, diz respeito apenas sobre a valoração da imediaticidade em detrimento da valoração a longo prazo. Não diz absolutamente nada sobre o objeto de valoração, isto é, sobre as ações que são preferidas ou não preferidas ou sobre recursos que são consumidos ou poupados. É um conceito formal, não está relacionado com os valores específicos aos quais eu me referi no texto (usar droga, estudar, jogar bola, ser religioso, etc), mas sim valores gerais quaisquer.

Sobre a preferência atemporal, o autor diz ser algo que buscamos a todo momento e a qual estamos tendendo a todo momento, que seria a lei verdadeira que definiria as ações certas e erradas. É fácil notar que tal preferência não pode ser tida como universal ao se perceber que pessoas optam por violá-la: um assassino, ao matar sua vítima, está agindo absolutamente contra tal lei, bem como um ladrão ou um torturador. Se há como violar tal preferência (e se pelo menos uma pessoa já violou tal preferência), então ela não pode ser universal, pois, para que assim seja, é necessário que todos, sem qualquer exceção, a sigam, o que não ocorre. Isto apenas corrobora com meu argumento, segundo o qual as preferências que os indivíduos têm moldam suas ações diariamente, e os indivíduos de uma mesma sociedade tendem a ter tais preferências alinhadas, ainda que haja algumas dissonâncias, vide ladrões e assassinos. Mesmo que haja um valor moral supremo e universal, não se pode afirmar que todos os seguem, pois, se isso fosse verdade, crimes não ocorreriam e este debate sequer estaria acontecendo. Falarei melhor sobre isso mais para frente, novamente.

Posteriormente, é dito que se a moralidade fosse subjetiva, a ética não teria um alicerce sólido sobre o qual repousar e definir o que é certo e errado, novamente assumindo que a moralidade precede a ética. Como eu falei no começo, não sairemos do lugar neste ponto, é uma discussão meramente semântica: você considera que há um princípio universal em conformidade com o qual nós devemos agir, e o chama de moral, enquanto eu o chamo de ética. Certamente também divergimos sobre o conteúdo de tal princípio, mas concordamos em sua natureza, apesar de o chamarmos de nomes diferentes.

Em seguida, o autor ignora o que eu falei sobre ele errar ao dizer que a moralidade não existiria caso fosse relativa à vontade individual, focou na palavra “ignorância”, usada por mim, e buscou algo em meu discurso contra o qual ele pudesse usar a mesma palavra, mudando do ponto atacado por mim.

 

“Isso demonstra a ignorâncias dos kantianos ao separar a moral da ética ao considerarem que a moral seja de alguma forma subjetiva e a ética uma forma objetiva”

 

Você realmente leu Kant ou só induziu que por eu tomar a epistemologia kantiana como válida eu, automaticamente, também aceito sua teoria ética/moral? Caso tenha lido, então, por favor, mostre-me onde ele disse que a moralidade é subjetiva e a ética é objetiva. Já adianto que durante toda a Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant fala sobre a objetividade da moralidade, sobre o princípio objetivo do querer ser a lei prática, sobre a determinação de vontades conforme leis morais objetivas, sobre a representação de um princípio objetivo enquanto obrigante para uma vontade, a saber, o imperativo categórico, etc. Tudo o que Kant escreveu sobre moral é diametralmente oposto ao que você escreveu nesta frase. Recomendo que ao menos se dê o trabalho de ler pelo menos um resumo do que você pretende atacar (isso sem falar que nem sequer citei Kant, então não sei o motivo de falar sobre a suposta ignorância dos kantianos [ignorância esta que você demostrar estar sobre posse, ao atribuir a Kant o exato oposto do que ele defendia]). O parágrafo seguinte tem nove linhas e está extremamente mal redigido, não consegui entender o que o autor quis dizer nem a que conclusão ele quis chegar.

O autor novamente fala sobre o meu conceito de moralidade estar atrelado à preferência temporal, enquanto o seu está atrelado à preferência atemporal, dizendo ser composto de princípios objetivos, universais e atemporais, mesmo sem apresentar qualquer um desses princípios em qualquer momento de seu texto. Apresente-os e prosseguiremos a discussão; do contrário, estará apenas usando tais princípios morais universais como mantra sem expô-los e muito menos provar que são verdadeiros. Mais uma vez, quando me refiro a preferência, não estou falando sobre preferência temporal, mas simplesmente à capacidade do indivíduo de arbitrar acerca das opções que lhe são fornecidas e ponderar sobre aquela que melhor satisfaria seus anseios. Não há como ser diferente, pois mesmo que se diga que há um princípio moral absoluto e objetivo, seu seguimento se daria apenas porque o sujeito em questão o faria por acreditar que isso lhe traria benefícios (como a satisfação por agir conforme a moralidade, ou por agradar a Deus, ou por agradar a seus pais, ou por agradar seu próprio ego, ou seja lá o motivo que for). Negar isto é negar que indivíduos agem propositadamente, o que por si só já é uma contradição performativa.

Após isso o autor simplesmente ignora minhas objeções e apenas repete a mesma coisa para o que eu escrevi. Em seguida, diz que se não é possível provar objetivamente que existe uma moral intrínseca ao ser humano (que até agora não foi apresentada), então também não seria possível provar que existe uma lei objetiva, um princípio universal em concordância com o qual deveríamos agir. Isto não procede. Sendo a moralidade um conjunto de valores individuais, é plenamente possível que o sujeito tenha um ordenamento moral completamente divergente dos princípios éticos (isto é, da lei de propriedade), justamente por serem princípios normativos, os quais devem poder ser quebrados, pois, do contrário, seriam descritivos, como já falei anteriormente. A preferência por atividades no conflituosas faria parte de uma moralidade condizente com a ética. Ainda, em momento algum essa tal moralidade objetiva foi provada, muito menos tal princípio (que nem ao menos foi exposto).

Quando falei sobre a impossibilidade de se provar racionalmente a existência de Deus e, portanto, que sua crença se daria unicamente pela fé, não quis dizer que a fé e apenas a fé cega impulsionaria o homem a crer que Deus existe. É claro que há um balanço entre racionalidade e fé, nunca negue isto. Ao verificar que toda causa tem um efeito e que, portanto, deve haver uma causa inicial imóvel, que não segue a lei da causalidade, pois, do contrário, infinitos eventos precederiam o presente instante, de maneira que ele nunca chegaria, infere-se que é provável que haja um tal motor imóvel. Não estou dizendo que este é um argumento correto, estou apenas dizendo que uma crença baseada em tal argumento não é uma crença puramente fideísta, pois ela toma o princípio da causalidade como base. Em outras palavras, é uma análise racional que leva à inferência de que Deus existe, não apenas uma crença cega. Entretanto, apesar de ser um motivo racional para se crer que Deus existe, isso está longe de ser uma prova de sua existência.

 

“Claro, libertários não reconhecem a moral como sendo de fato absoluta e tende achar que a ética é independente de qualquer moral intrínseca ao ser humano (Obs: Não estou falando dos anarcocapitalistas em si, nem todo libertário é um anarcocapitalista).”

 

O fato de a moral não ser absoluta não faz com que a ética seja independente de qualquer moral. O princípio ético, isto é, a lei de propriedade, existe devido ao fato de os recursos serem escassos e da possibilidade de ocorrência de conflitos, mas não só isso. Estes dois fatos não são suficientes para que surja um dever em relação ao respeito à autonomia individual. É necessário, além disso, que haja um juízo de valor individual que sirva como base para tal dever, e este juízo de valor é a preferência por atividades não conflituosas, preferência esta que é demonstrada no curso de uma argumentação, segundo Hoppe. Isso significa que a moralidade do indivíduo, isto é, as preferências sobre as ações que ele tem, deve apontar para atividades livres de conflitos, pois só assim pode o dever surgir. Do contrário, não passaria de uma falácia naturalista, bem como esta na qual você incorre ao dizer que há um princípio supremo inerente à humanidade sem demonstrá-lo em momento algum ou sem apelar para a existência de estruturas metafísicas incognoscíveis, como Deus. Ah, e por favor, diga-me o que é um libertário, porque aparentemente nem isso você sabe o que é, ao dizer que nem todo libertário é anarcocapitalista.

 

“Bem, dentro dessa definição de ética, então concorda que até mesmo existe uma lei natural e que dentro disso você também confirma que existe uma preferência atemporal e objetiva do homem siga e cumpra a lei e de conformar essa lei? Se sim, então está confirmando que exista valores morais intrinsecamente objetivos para a preferência objetiva do homem em cumprir a lei e estamos também falando de moral.”

 

Não. Mais uma vez, se existisse uma preferência atemporal, objetiva e universal nos indivíduos para seguirem a lei, então a própria existência de uma lei normativa seria sem sentido, pois não haveria a opção de não segui-la, já que a preferência por segui-la seria algo intrínseco à natureza do sujeito. Não existiria o mal, porque não seria possível optar por quebrar a dita lei atemporal, objetiva e universal, uma vez que ela seria totalmente independente dos juízos de valor subjetivos dos indivíduos. Por favor, pesquise sobre a diferença entre juízos normativos e juízos descritivos, suas ideias estão se confundindo intermitentemente nestes conceitos.

 

“Mas, o problema da ética hoppeana é ser uma ética voltada a não questão moral e sim material (recursos escassos), ela se apresenta como uma lei universal para os valores materiais e não para questão moral e isso é um problema para uma ética que se apresenta uma lei universal, já que uma lei precisa se fundamentar em uma base de facto moralista objetiva para que assim tenhamos uma definição concreta de certo ou errado.”

 

Mas é justamente para a prevenção de conflitos físicos que a ética libertária existe. A lei de propriedade não lhe diz como agir, de que maneira orientar suas ações para atingir o sucesso ou para estar de acordo com alguma vontade suprema e universal. Ela diz apenas o que você não deve fazer para que conflitos sejam evitados, isto é, diz que você não deve violar propriedade privada.

“Mas, não podemos diminuir a ética para uma coisa apenas voluntária, uma lei como a ética ainda deve estar acima de qualquer voluntariedade, tão pouco interessa se o indivíduo quer ou não seguir a lei.”

 

Você está confundindo normativo com descritivo, mais uma vez. Da mesma forma que os indivíduos podem optar por seguir ou violar tal princípio moral que você defende, os indivíduos podem optar por seguir a lei de propriedade ou agir de maneira contrária a ela. Isto não significa que é permitido que os indivíduos violem a lei de propriedade, que seu seguimento é uma questão meramente voluntária. O fato de todos deverem seguir um determinado princípio não faz com que todos o sigam, necessariamente, porque o dever é normativo, prescritivo, e não descritivo. Já cansei de explicar isso, não responderei mais os pontos em que você errar sobre isso.

 

“Ora, dá mesma forma podemos fazer outra pergunta: O que serve seguir tal lei se é possível eu não seguir essa mesma lei? No final das contas, isso não é nem um questionamento e muito menos uma forma de resposta, isso é apenas um paralogismo querendo questionar até mesmo àquilo que nos é intrínseco. Desculpe senhor Nicholas, isso não é um questionamento seu, mas sim um tipo de argumento tradicional de apelo à ignorância. Além de não ser um questionamento, essa questão é uma forma de armadilha para que cair no relativismo. Uma lei, mesmo que possa não ser seguida, não significa que essa lei é falsa ou inválida, como você confirma nos seus argumentos anteriores. Dá mesma forma, a moral não deixou de ser absoluta por causa desse fato. Então, estamos chegando à mesma conclusão do argumento da lei.”

 

Você literalmente me acusa de fazer exatamente o que você fez, absolutamente genial. Meus sinceros parabéns. Você afirma o tempo todo existir um princípio moral intrínseco ao ser humano, objetivo, atemporal, universal, e que o fato de eu assumir que a moralidade é subjetiva entra em contradição com o fato de a ética ser universal. O que estou dizendo é que este princípio moral intrínseco objetivo não existe, pois, se existisse, todos já prefeririam segui-lo e, portanto, não haveria desvio da conduta moral. Não haveria crimes, não haveria o mal, apenas o bem, pois todos já o seguiriam, uma vez que seu princípio seria intrínseco à humanidade. A moralidade ser subjetiva não tem nada a ver com a ética ser objetiva. A objetividade da ética se dá pelo fato de os recursos serem escassos e existirem indivíduos, e pelo fato de a lei de propriedade ser a única capaz de evitar que conflitos por disputa de tais recursos aconteçam universalmente, sem gerar outros conflitos. A pergunta retórica que eu fiz foi para mostrar a diferença entre juízos descritivos e normativos, o que você aparentemente ainda não entendeu. Eu não tomei a posição de que leis violáveis são inúteis, eu tomei justamente a sua posição, que nela incorre, ao dizer que há princípios morais intrínsecos ao sujeito, mas que na prática podem ser violados. Você está criticando a si mesmo por tabela e não percebeu, parabéns novamente.

 

“NADA LEVA À EXISTÊNCIA DE DEUS, já é um absurdo essa preposição no próprio argumento em que ele faz, se nada leva à existência de Deus, da mesma forma nada levaria à uma verdade absoluta. Deus não existe por causa de algo, concordo. Deus não precisa de causa, se não ele não seria Deus”

 

Você está dizendo que é um absurdo, mas suas últimas frases concordam com o que foi dito. Isto é uma proposição, não preposição (você conseguiu errar de novo no mesmo ponto mesmo eu já tendo lhe corrigido no texto anterior), e muito menos um argumento. Eu disse que nada leva à existência de Deus enquanto Ser, não que nada leva ao nosso conhecimento sobre a existência de Deus enquanto Ser. Leia o que eu escrevo com atenção, você está querendo criticar aquilo que concorda.

 

“Isso por si só é outro argumento absurdo, então não devemos procurar o que nos leva à verdades absolutas, isso é um tipo de argumento de dizer: “ACREDITA APENAS NO USO LIMITADO DA RAZÃO, POIS NÃO EXISTE ALGO QUE LEVE A ACREDITAR ALGO ALÉM DE NÓS” per si, em prática, não podemos ir atrás nem mesmo da verdade absoluta e muito menos sabemos quem é o nosso criador.”

 

Mais uma vez, não é um argumento, é uma proposição. Já falei antes que o que te faz acreditar em X ou Y, apesar de não ser totalmente independente da razão, não necessita que seja algo considerado razoável. Posso acreditar que Deus existe porque eu vi um pássaro atravessar a rua. É um motivo fútil, mas se Deus existir, então o objeto da minha crença é verdadeiro, ainda que o motivo seja irrelevante. Verdades absolutas existem na matemática, na lógica, é possível constata-las a partir de axiomas (que são, em si mesmos, verdades imutáveis, princípios sobre os quais todo o conhecimento matemático pode se dar). Se você crê em algo além da razão, não pode querer usar a razão para explica-lo. É como tentar carregar 1000kg num elevador que só suporta 70kg. Está além do limite, não vai funcionar.

Sobre o que foi escrito a respeito de Deus e milagres, não responderei nada. Você foi extremamente desonesto intelectualmente ao dizer que eu cometi apelo a ignorância, quando, na verdade, isto é a única coisa que você tem para tentar provar a existência de Deus.

“Me explique, se não for Deus que consegue fazer essas coisas [os milagres], como que o senhor então daria uma explicação para isso, sendo que nem os céticos são capazes até hoje de responder essas questões.”

            Isto é literalmente dizer que por não sabemos explicar como os ditos milagres relatados acontecem, então Deus existe. Risível, no mínimo.

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